quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Nestlé é a mais nova atingida pelo escândalo da carne de cavalo na Europa

Saiu na Carta Maior

A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, retirou produtos dos supermercados da Itália, Espanha, França e Portugal, depois que se encontraram rastros de DNA equino em três comidas processadas. Na semana passada, a Nestlé havia anunciado solenemente que seus produtos estavam a salvo do escândalo. A reportagem é de Marcelo Justo, de Londres



 
 


Londres – O escândalo da venda de carne de cavalo se converteu em uma bola de neve incontrolável. A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, retirou produtos dos supermercados da Itália, Espanha, França e Portugal, depois que se encontraram rastros de DNA equino em três comidas processadas. Na semana passada, a Nestlé havia anunciado solenemente que seus produtos estavam a salvo do escândalo. Na verdade, quase ninguém hoje parece salvo de nada, por mais que empresas como a Nestlé e os próprios governos assegurem que a carne equina não é um perigo para a saúde.

A Nestlé retirou duas marcas de massas congeladas – Ravioli e Tortellini Buitoni – que estavam sendo vendidas na Itália e na Espanha, e uma de lasanha vendida na França e em Portugal. As provas de laboratório apontaram uma presença de 1% de carne de cavalo, mas a empresa decidiu suspender a comercialização de todos os produtos da empresa alemã H.J.Schypke, fornecedora dos congelados em questão. Na segunda-feira (18) uma cadeia internacional de supermercados sediada na Alemanha, Lidl, retirou produtos que continham vestígios de carne equina de seus supermercados localizados na Finlândia e na Suécia.

Desde que as autoridades irlandesas descobriram carne equina em uma amostra de hambúrguer à venda em supermercados, o escândalo se disseminou por toda a Europa, expondo uma cadeia globalizada de produção de alimentos repleta de intermediários, que viaja desde a Romênia – origem da venda da carne de cavalo – e Chipre para a França, o Reino Unido e o resto do sul e do norte da Europa.

A União Europeia está coletando provas por amostragem em seus 27 membros para detectar a presença de carne equina e butus, uma droga anti-inflamatória para cavalos, proibida na cadeia alimentar humana por seu impacto na saúde. Na França, um dos epicentros da crise, as autoridades estão investigando a Spanghero, uma empresa processadora de alimentos acusada de tratar de maneira fraudulenta cerca de 750 toneladas de carne equina.

A OCCRP, que investiga o crime organizado no leste europeu e na Ásia Central, identificou a empresa Draap Trading, com sede em Chipre, como a responsável pelo envio da carne de cavalo para a França. Draap, que admitiu a aquisição da carne de matadouros na Romênia, está registrada em um paraíso fiscal nas Ilhas Virgens e seu diretor, Jan Fasen, foi condenado no ano passado por vender carne equina da América do Sul como carne bovina alemã e holandesa.

Segundo o jornal dominical britânico “The Observer”, Draap usa exatamente a mesma rede de empresas que o russo Victor Bout, condenado em novembro de 2011 por fornecer armas às FARC da Colômbia e acusado de ser uma figura chave do tráfico internacional de armas na África e Oriente Médio. Rosie Sharpe, da ONG Global Witness, disse ao “The Observer” que a crise está revelando os perigos que representa uma opaquíssima globalização financeira. “Torna-se muito fácil processar o dinheiro que sai da venda de carne adulterada ou tráfico de armas para o crime organizado. É muito fácil ocultar o nome dos verdadeiros donos das empresas por meio de paraísos fiscais”, assinalou Sharpe.

A esta opaca estrutura financeira se somam os cortes orçamentários em nível europeu. No Reino Unido, a Agência da Alimentação, que regula a venda de produtos alimentares, foi reduzida à metade com o programa de austeridade lançado pela coalizão Conservadora-Liberal Democrata em 2010. O atual ministro para o Meio Ambiente, a Alimentação e a Agricultura, Owen Patterson, foi um dos artífices destes cortes sobre um organismo que contava entre seus inimigos a indústria alimentícia e as cadeias de supermercados. Patterson teve que recuar com seu discurso de regulação “leve” e, mais irônico ainda, deixou de lado também o euroceticismo radical, declarando que “a Europa é a organização que deve coordenar nossos esforços”.

O programa de austeridade afetou também os municípios, cujas unidades de supervisão alimentar sofreram cortes de até 70%. Não surpreende tampouco que o setor público, obrigado a maximizar os recursos frente aos cortes, tenha saído queimado do escândalo. Em Lancashire, norte da Inglaterra, as autoridades tiveram que tirar de circulação os pasteis de carne de 47 escolas públicas. A Compass, uma empresa de alimentos que fornece comida processada para mais de sete mil escolas e hospitais do Reino Unido, reconheceu que um de seus produtos continha carne de cavalo.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Após cinco dias à deriva, navio com 4 mil passageiros chega a porto no Alabama

Saiu no IG 

Passageiros relataram condições deploráveis de higiene no cruzeiro Carnival Triumph; embarcação ficou avariada após um incêndio na sala de máquinas

iG São Paulo | - Atualizada às


AP
Kristina Courson, de Paris, Texas, é abraçada por Jamie Hilliard, de Denison, Texas, após desembarcar do cruzeiro Carnival Triumph, em Mobile
Um navio de cruzeiro que estava à deriva há cinco dias chegou rebocado na noite de quinta-feira (14) ao porto de Mobile, no Alabama, acabando com o pesadelo de 4 mil passageiros. A embarcação ficou avariada após um incêndio na sala de máquinas no domingo e passageiros relataram uma odisseia de banheiros transbordando, falta de alimentos e odores desagradáveis.

Os passageiros a bordo do navio Carnival Triumph, de 14 andares, começaram a desembarcar a partir das 21h15 no horário local (0h15 de sexta em Brasília), alguns em cadeiras de rodas e outros empurrando sua própria bagagem. Ambulâncias aguardavam na plataforma de desembarque. Alguns passageiros dançavam em comemoração e tiravam fotos no porto.

O desembarque foi concluído a 1h15 de sexta-feira (4h15 em Brasília). Para Brittany Ferguson, 24 anos, do Texas, ficar sem saber quanto tempo ficariam à deriva foi a pior parte. "Eu estou me sentindo ótima só de estar vendo terra e prédios", disse. "A parte mais assustadora era não saber quando íamos voltar."

Levou seis horas para que o navio conseguisse atravessar o canal de navegação de aproximadamente 48 km em direção ao cais. Foram necessários quatro rebocadores para guiar o navio de 274 metros de comprimento, o maior desse tipo que já atracou no porto de Mobile, o único do Estado.
Passageiros a bordo descreveram, por meio de mensagens de texto, as condições precárias a que foram submetidos enquanto estavam à deriva. Nauseados pela falta de ar e pelo calor nos primeiros andares, muitos arrastaram colchões e lençóis para o último andar do navio e dormiram lá, apesar da chuva.


"Hoje eles limparam o navio, estão servindo comida melhor, basicamente disfarçando a realidade, mas ao menos estão fazendo a situação mais suportável", disse Kalin Hill, de Houston, que estava no navio para uma festa de solteira.

Ônibus levavam passageiros a uma viagem de cerca de sete horas até a cidade de Galveston, no Texas, ou Houston, ou ainda de duas horas até Nova Orleans. Alguns também ficaram em Mobile. "É inacreditável que eu estava naquele navio nessa manhã e agora estou pegando um ônibus", disse Kirk Hill.

Por mensagem de texto, ela descreveu condições deploráveis vividas dias antes: "Os andares mais baixos são os piores, o chão gruda enquanto você anda e muitos dos quartos estão alagados", escreveu. "O cheiro é literalmente de doer. Há urina e fezes pelo chão. O chão está inundado com esgoto."
 
O presidente da Carnival Gerry Hill pediu desculpas em uma coletiva. "Eu agradeço a paciência de nossos convidados e sua habilidade para cooperar com a situação. E eu gostaria de reiterar o pedido de desculpas feito mais cedo. Eu sei que as condições à bordo têm sido precárias", disse. "Nos orgulhamos de dar aos nossos passageiros férias incríveis, e, claramente, falhamos nesse caso em particular."

Renee Shanar, de Houston, estava à bordo com seu marido, que, segundo ela, tem problemas no coração. Eles foram avisados pela equipe que seriam os primeiros a desembarcar. "Eu não acredito neles. Eles têm mentido para gente desde o começo", disse.
AP
O sol se põe enquanto o cruzeiro Carnival Triumph era levado ao porto de Mobile, no Alabama
A empresa informou que a tripulação do navio fez tudo o que estava no seu alcance para garantir o conforto dos passageiros. O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes abriu uma investigação.

Ninguém ficou ferido no incêndio, mas um passageiro com um problema de saúde foi retirado do navio por precaição. Além disso, a guarda costeira disse em comunicado nesta quinta-feira que retirou um passageiro que teria sofrido um derrame.

Os passageiros terão um reembolso de 100% e descontos em cruzeiros, e a Carnival anunciou na quarta-feira que iria dar um adicional de US$ 500 em compensação.

Com AP